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Dois anos atrás, fiz um curso na ITS Rio sobre Algoritmos de redes sociais. De lá pra cá, tenho colhido impressões e informações sobre o tema e me espanta que não se fale sobre isso. Até que exista sangue nas (nossas) mãos.

No mundo contemporâneo, onde as redes sociais se tornaram um componente essencial da vida diária, surge uma preocupação crescente sobre seu impacto na saúde mental. Essencialmente, o cerne do problema reside não apenas no uso excessivo dessas plataformas, mas também na forma como os algoritmos das redes sociais são projetados e operam. Estes algoritmos, muitas vezes opacos e incompreendidos pelo usuário comum, desempenham um papel crucial em moldar a experiência online, influenciando não apenas o que vemos, mas como nos sentimos em relação ao mundo ao nosso redor. Todos somos atingidos, indistintamente.

Os algoritmos de redes sociais são sistemas complexos projetados para capturar e analisar uma vasta gama de dados dos usuários. Esses algoritmos utilizam técnicas avançadas de aprendizado de máquina e análise de dados para personalizar e otimizar a experiência do usuário na plataforma. Eles monitoram a interação do usuário com o conteúdo – curtidas, compartilhamentos, tempo gasto em cada postagem – e usam essas informações para determinar quais tipos de conteúdo são mais prováveis de manter o usuário engajado na plataforma.

À medida que o final do ano se aproxima, essas questões se intensificam. Historicamente, esta época tem sido associada a um aumento nos índices de depressão e suicídio, uma tendência que é exacerbada pela natureza das redes sociais. Estas plataformas frequentemente apresentam uma visão distorcida da realidade, onde a felicidade e o sucesso são exageradamente destacados, enquanto as lutas e desafios cotidianos são minimizados ou escondidos. Isso pode levar a uma sensação de inadequação e isolamento, especialmente entre aqueles que já estão lutando com questões de saúde mental. A velha questão da aceitação: se sou diferente do padrão, não sou aceito.

O papel dos algoritmos aqui é duplamente significativo. Primeiro, eles tendem a criar bolhas de filtro, onde os usuários são expostos a uma realidade homogeneizada que reforça suas crenças e percepções existentes, muitas vezes à custa de uma visão mais equilibrada e diversificada do mundo. Em segundo lugar, esses algoritmos são projetados para maximizar o engajamento, o que muitas vezes significa promover conteúdo que é emocionalmente carregado, seja positivo ou negativo. Esse tipo de conteúdo pode ser particularmente prejudicial para indivíduos vulneráveis, contribuindo para sentimentos de ansiedade, depressão e solidão.

Além disso, há uma responsabilidade crescente que recai sobre as empresas por trás dessas redes sociais. A forma como projetam e ajustam seus algoritmos tem implicações significativas para o bem-estar mental de seus usuários. Embora tenha havido alguns esforços para tornar essas plataformas mais seguras e saudáveis, muito ainda precisa ser feito. Isso inclui uma maior transparência em relação a como os algoritmos funcionam, bem como um compromisso mais forte com a promoção de um ambiente online mais positivo e saudável.

À medida que entramos em uma era onde a presença digital é quase tão significativa quanto a nossa vida física, é crucial reconhecer e abordar os impactos potencialmente prejudiciais das redes sociais. Afinal, a saúde mental é um aspecto intrínseco do nosso bem-estar geral, e as ferramentas que usamos todos os dias devem contribuir para isso, e não o contrário. À medida que avançamos, é essencial que tanto os usuários quanto os desenvolvedores dessas plataformas estejam conscientes do poder e do impacto dos algoritmos.

Diante dessa realidade, a ação humana e a empatia se tornam fundamentais. É essencial conversar, dialogar, não se render ao silêncio ou ao isolamento daqueles que precisam de ajuda. Em um mundo cada vez mais digital, onde os algoritmos buscam lucro a qualquer custo, lembramos que o tempo é valioso, mas as relações humanas são inestimáveis. Se observar amigos, familiares ou conhecidos se isolando, especialmente neste período desafiador para a sociedade, estenda a mão. A tecnologia, apesar de suas inúmeras vantagens, pode ser prejudicial para pessoas em situações vulneráveis. O que antes era limitado ao âmbito pessoal agora se espalha sem fronteiras pela internet.

Se você não tem tempo para ver o celular do seu filho, arranje. Se você não tempo para conversar com quem está do seu lado, dê um jeito. Se você não tem tempo para perguntar ao seu amigo como ele está, consiga. Ou algum dia, chegará uma notificação de uma rede social no seu aparelhinho dando uma notícia bem desagradável.


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