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A idade entrega. Lembro de um filme de 1994, estrelado por Sylvester Stallone e Sharon Stone, chamado O Especialista (The Specialist), onde a então atriz que habitava sonhos de 9 entre 10 homens era uma milionária que precisava dos serviços de um ex agente da CIA, especialista em explosivos, para matar o chefe de uma organização criminosa. O filme era um misto de de várias coisas da época, mas o principal: Stallone era o cara. Detalhista, profissional e quase irrastreável, era um símbolo da quase perfeição na sua atividade. Estamos em 2023 e as especialidades mudaram muito. Ainda existem os explosivistas por aí, mas na Inteligência a principal ferramenta da atividade ainda é muito carente: o especialista em Cibersegurança.

Com o rápido avanço da tecnologia e o aumento da dependência da sociedade em meios digitais, o cenário dos crimes também evoluiu. Hoje em dia, os cibercrimes representam uma ameaça significativa à segurança pública e à economia global. Para combater essa crescente onda de delitos cibernéticos, as forças policiais deveriam contar cada vez mais com especialistas em cibercrimes. Mas aí reina um problema sério, no mais puro suco de Brasil: ser serviço público. Bons especialistas na área, além de raros, não são baratos. E serviço público prevê uma coisa chamada equidade de salários. Então, se formar um grande especialista em Cyber dentro de seus próprios quadros, dos melhores até em nível nacional, ele vai receber exatamente a mesma coisa de um colega com a mesma graduação e tempo de serviço que não é especialista em nada e só bate o cartão. O segundo ainda tem a vantagem de não ter o estresse da função e não levar trabalho pra casa, algo obrigatório ao ciberespecialista.

O que é um especialista em cibercrimes?

Um especialista em cibercrimes, também conhecido como perito forense digital ou investigador de crimes cibernéticos, é um profissional treinado em áreas como ciência da computação, segurança da informação e investigação digital. Esses especialistas possuem conhecimento técnico avançado para analisar evidências digitais, rastrear atividades suspeitas, identificar os responsáveis por cibercrimes e coletar provas que possam ser usadas em processos judiciais. E vai muito além dessa descrição pasteurizada que eu fiz no ChatGPT. É o mundo dos curiosos. Os bancos escolares ensinam e dão o certificado, mas os grandes e melhores da área buscam o conhecimento nas infinitas fontes abertas, cursos gratuitos em plataformas como YouTube ou fóruns da Deepweb. O verdadeiro conhecimento dessa área pode ser chancelada pelas faculdades, mas o conhecimento de verdade vem através da busca incessante de atualização e novas ferramentas, que pulsam diariamente na internet. Não atoa os novos talentos da área emergem com 15, 16 anos de idade, com tentativas de invasão (e com sucesso) a diversos bancos de dados mundo afora.

O Brasil é um país gigantesco, formado por estados que mais parecem países de tão diferentes formações. Alguns estados se sobressaem na área. São Paulo e Paraná, por exemplo, possuem divisões de combates a Cibercrimes com uma boa estrutura e com razoável nível de bons profissionais. Em outros estados, ao menos pelo que vejo daqui da minha torre ao sul do mundo, existem os “exércitos de um homem (e mulher) só”. Gente abnegada que tenta, muitas de vezes forma solitária, travar essa guerra contra o cibercrime, uma chaga que ainda não teve o devido valor dado pela maioria dos gestores. Sempre falo em meus artigos: números de 2021 dizem que precisamos de oito horas para ter a mesma quantidade de roubos tentados ou consumados que temos em um minuto de golpes virtuais, consumados ou tentados. Se isso não é alarmante, então não sei o que mais é.

E assim, seguimos a romaria. Enquanto os verdadeiros especialistas não se formam dentro do serviço público e não se é dado o devido valor, vamos sofrer muito ainda. Golpes e mais golpes, com prejuízos ao Brasil e os brasileiros, na casa dos 22,5 bilhões de dólares (números de 2019 prépandemia – ou seja muito maiores agora), deveriam ser levados muito a sério. Poderíamos começar dentro do serviço público, colocando as pessoas certas nos postos chaves de combate a esse mal. É preciso despir-se de vaidades e questões pessoais e dar essas pessoas o protagonismo que elas merecem para que possam fazer seu trabalho. Não precisamos de um Stallone. Precisamos de um Exército e com respaldo para trabalhar.


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