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Desde a semana passada, pipocam na mídia notícias sobre projetos de lei sobre a proibição do uso de celular nas escolas. Um projeto de lei do deputado Renan Ferreirinha (PSD-RJ), se aprovado, pode proibir o uso de celulares em aulas de todas as escolas públicas do Brasil, quando professores estiverem lecionando em ambientes internos (as salas de aula) ou externos. Já em Minas Gerais, um projeto tramita na Assembleia Legislativa daquele estado, com ainda mais alcance: amplia a proibição do uso de celular dentro de escolas, teatros, cinemas, igrejas, salas de aula e bibliotecas. A parte da questão política sempre tão polemica no Brasil, é preciso discutir tecnicamente os efeitos disso, no uso dessas tecnologias e seus efeitos, principalmente no que tange a segurança pública.

O uso desmedido de celulares no Brasil é um problema de saúde pública. Estudos apontam que, das 16 horas médias que passamos acordados, 9 delas estamos em frente a alguma tela. Ainda, temos cerca de 20 milhões mais de linhas de celular do que habitantes. Em se tratando de adultos, supostamente mais “formados”, isso geraria menos problemas. Agora pare e pense o efeito disso em pessoas em formação. Comumente vemos no Brasil crianças de seis meses, um ano, portanto caros Iphones em ambientes públicos, dados por pais que buscam que os menores fiquem “quietinhos”. A situação piora quando estão mais velhos: se com dez, onze anos seu filho não tem um celular, ele se torna um ser excluído do ambiente coletivo em que vive, em especial na escola. É círculo vicioso em que vivemos, de onde ninguém escapa.

Mas voltando ao tema do paragrafo anterior: qual o efeito do uso dessas tecnologias e tudo que vem associado a elas (redes sociais, Inteligência Artificial)? Eu não sou psicólogo ou psiquiatra, mas sou especialista na área de Cyber e das tecnologias decorrentes (e sou pai também), então me arrisco a dizer: é extremamente nocivo. As pessoas estão terceirizando a educação dos filhos para as redes sociais e seu efeito altamente viciante. Não por acaso, a terminologia do cliente das redes é a mesma do tráfico de drogas: são usuários. Então, lamento informar caro leitor, mas você está transformando seu filho em um drogado. E os mesmos pais e mães que reclamam que o filho não presta a atenção nas coisas que ele diz dentro de casa, foi o mesmo que oportunizou o acesso a ele. Resumindo: os pais compram a droga, viciam os filhos e depois reclamam que ele se tornou um zumbi.

As big techs fazem uso de algoritmos aprimorados diariamente, cujo objetivo é escravizar os usuários e fazê-los cada vez mais presentes dentro das redes sociais, dos buscadores e serviços. Assim, é possível lucrar cada vez mais. Imaginem então, crianças e adolescentes, cada vez mais sedentos pro aprovação social, cada vez mais escravos de um destaque perante a amigos e outros. O ambiente da sala aula deveria ser sagrado: apenas atenção aos conteúdos ministrados, para que o futuro do país fosse bem formado. Se bem utilizado, o smartphone ajudaria demais na busca de conhecimento. Mas sabemos bem, não é isso que acontece. A dependência (quase química) da tecnologia faz esses futuros políticos, médicos, advogados totalmente desfocados dos objetivos primários da sala de aula. Os adultos, pais e mães que discordam do que estou escrevendo, pensam o seguinte: daqui trinta anos, o médico que vai operar seu coração será um desses pequenos escravos de hoje que não deu a mínima pra essa aula na faculdade porque estava stalkeando terceiros.

Mas não para por aí: para a segurança pública, o efeito é nocivo de forma igual. Repare ao andar na rua: você caminha entre uma maioria de pessoas que circulam olhando a tela do celular, sem ao menos olhar por onde caminham. Um prato cheio aos ladrões de telefones. O Brasil teve um milhão de ocorrências de roubo e furto de celulares em 2022, com uma média de 2.738 aparelhos levados por dia, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança. Ou seja, a cada minuto dois brasileiros têm seu telefone levado. 1 milhão de crimes, que antes não existiam, a mais por ano. Fora aqueles que não registram. Mas vamos além: a cooptação de menores para atentados em escolas e ambientes coletivos, que antes da Internet praticamente não existiam, são quase diários mundo afora e o Brasil está aí para comprovar, como demonstraram Cambé e Blumenau. O acesso a drogas como cocaína, maconha, crack e outros é muito simples: qualquer amigo do seu filho sabe um “cara” que se manda um whats e você recebe na porta de casa qualquer uma dessas.

Então, voltamos ao ponto: você sabe o que o seu filho faz no celular? Claro que não. Eu, que sou crítico ferrenho de Brasília e os políticos, dessa vez tendo a concordar. É preciso proibir sim. Não só na escola, mas em vários outros locais públicos. É uma questão social. De saúde pública. De segurança.


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